Cansada das vitórias de Hércules, Hera decidiu colocar o bastardo de Zeus contra seus netos, filhos de Ares, o deus da guerra e filho legítimo da deusa com Zeus. Inspirou, então, Euristeu a definir o oitavo trabalho: trazer as quatro éguas carnívoras de Diomedes, chefe dos Bistônios (povo não grego da selvagem e inóspita Trácia) e filho do deus Ares com uma mortal. Dizia-se que Diomedes dava seus inimigos e estrangeiros perdidos na costa do Mar Negro para suas éguas se alimentarem. De tão descontroladas, Podargo, Lâmpon, Xanto e Dino viviam presas por pesadas correntes no estábulo. Alguns diziam que as éguas tinham mandíbulas de bronze, soltavam fogo e fumaça pelas narinas.
A caminho da Trácia, Hércules passou por Feras para encontrar Admeto, que conhecera entre os Argonautas. Algum tempo antes, o rei tivera o privilégio de ter o deus Apolo sob suas ordens, que estava sendo castigado por Zeus por ter matado ciclopes em represália pela morte de seu filho Asclépio. Apolo afeiçoou-se a Admeto e o ajudou a conquistar Alceste, filha de Pélias, que havia sido prometida àquele que fosse até ela num carro puxado por leões e javalis. O deus também pediu às Moiras que tecessem mais um fio de vida ao rei caso alguém concordasse voluntariamente em substitui-lo. Acreditando ser amado e ter servos lhe devendo favores, Admeto não se preocupou. Porém, nem mesmo seus pais se habilitaram, somente a jovem e apaixonada Alceste se ofereceu. Admeto se recusou a perdê-la, mas as Parcas aceitaram a troca.
A morte de Alceste, tela de Pierre Peyron (1785) |
Hércules enfrenta a Morte por Alceste. Óleo de Frederic Leighton (1870). |
Enquanto Admeto ia recuperando as forças, Alceste adoecia. Hércules chegou à região e foi recebido pelo rei, que, para não perturbar o herói, fingiu que nada acontecia. Hércules comeu e bebeu além da conta, mas percebeu que ninguém acompanhava de sua alegria. Forçou um dos serviçais a contar o que acontecia. Chateado com seu próprio comportamento, decidiu esperar Tanatos, a Morte personificada, na porta do quarto da jovem. Com sua força e um laço de diamantes, o herói agarrou Tanatos e o obrigou a desistir do acordo. Alceste foi se recuperando e pode continuar a viver ao lado de seu amado Admeto. Outra versão dessa história, diz que, assim que Alceste aceitou morrer no lugar do amado, Perséfone se comoveu e desfez o acordo das Parcas com Apolo.
Hércules, então, navegou para a Bistônia com um grupo de voluntários, entre eles, Abderos, um jovem ousado da Lócrida a quem o herói tinha como companhia (outro eromenos). Rapidamente o grupo dominou os guardiões das éguas antropófagas e as roubou. No caminho para o navio, eles avistaram Diomedes e suas tropas. Hércules pediu que Abderos cuidasse das éguas enquanto ele enfrentava os bistones. O herói e seus amigos abriram um canal nas dunas que separavam a planície do mar e acabaram inundando a região formando um lago que separou e matou parte da tropa bistone. Diomedes ficou frente a frente com Hércules e foi derrubado.
Em sua inexperiência, Abderos acabou sendo devorado pelas éguas. Furioso ao ver seu companheiro em pedaços, o herói resolveu dar Diomedes para que as feras o devorassem. Surpreendentemente, os animais se acalmaram como mágica e Hércules conseguiu dominá-las. Antes de voltar para Micenas, Hércules deu um enterro digno ao jovem com competições atléticas e fundou a cidade de Abdera ao lado do túmulo.
Uma outra versão da história, conta que Hércules resolveu tudo sozinho. As éguas estavam atreladas a uma biga e o herói precisou levá-las junto com o carro para Euristeu. Outros dizem que Hércules atrelou os animais ao seu próprio carro para conseguir dominá-los. Elas representam a perversidade do homem que causa a morte da alma.
Euristeu ofereceu os cavalos à Hera, que novamente pediu para soltá-los. As éguas viveram livres pelas planícies de Micenas e acredita-se que uma delas foi ancestral de Bucéfalo, o famoso cavalo de Alexandre, o Grande. Quando os animais chegaram aos pés do Monte Olimpo, os deuses ordenaram que elas fossem devoradas por lobos selvagens.