segunda-feira, 31 de maio de 2010

Olokun

Olokun (ou Olocum, do iorubá, Olóòkun, "proprietário do oceano") é a divindade iorubá do mar, considerada em Ilê-Ifé (Nigéria) e no Brasil como do sexo feminino, e em Benin como do sexo masculino. Na verdade, sua força é ainda maior ao ser considerada a divindade das águas do Universo.

Casada com Oduduwa, Olokun era triste e infeliz e se largou na escuridão ao se separar. Pediu, então, para Olodumaré transformá-la em água. O deus - que já vagava pelo mundo quando somente havia pedras e fogo - transformou o vapor das chamas vulcânicas em uma grande quantidade de nuvens que se precipitaram sob a forma de chuva: era Olokun, que ocupou os espaço da Terra e formou os oceanos. Poderosa, tornou-se Rainha dos Iorubás. Dizia-se que morava no fundo do mar em um vasto palácio, e que tinha humanos e peixes como criados.

Olukun é, às vezes, representada por uma serpente gigante presa por Obatalá e, uma dia, irá subir a terra e se mostrar aos homens. Portanto, é a escuridão do mar, sombria, dona das ondas e a fúria do oceano, capaz de engolir a Terra. Mas também tinha seu lado bondoso (Olokun Seniade), que, vestida de branca, mandava mensagens de responsabilidade, pureza, respeito, honra e caráter, dançava majestosamente e lançava búzios de riqueza em forma de benção. Em sua versão masculina, vestia-se de corais e cada perna era um rabo de peixe.

Com Olokun vivem dois espíritos: Samugagawa (vida) e Acaró (morte), ambos representados em suas "ferramentas", às vezes, como lagartos. Tem ligações com os eguns (espíritos dos ancestrais), pois têm um papel crítico na morte, na vida e na transição de humanos e espíritos entre as duas existências.

Uma lenda conta que Olokun e Olorun eram casados e criaram tudo. Mas se separaram numa disputa de poder e viveram em guerra (separação do céu e da terra). Certa vez, Olokun invadiu a Terra para destruir a humanidade e demonstrar seu poder (dilúvio?). Olorun salvou parte da humanidade lançando uma corrente para os homens subirem. Com essa mesma corrente, Olorun atou Olokun ao fundo do mar. Olokun mandou uma gigantesca serpente marinha engolir a lua, mas Olorun disse que sacrificaria um humano por dia para acalmar a deusa. Assim, todo dia uma pessoa se afoga no mar.

No Brasil, é comparado a Iemanjá, mas, Iemanjá representaria o mar cristalino e visível, de beleza inimaginável, enquanto Olokun representaria o mar desconhecido, escuro, do fundo do oceano. Alguns terreiros a consideram mãe de Iemanjá e a homenagem nas festas de sua filha, mas não se incorpora. Iemanjá assumiu seu papel como deusa do mar. Na Nigéria, Iemanjá é uma divindade do Rio Ogun, enquanto Olokun é a mãe de todas as águas. Em Cuba, diz-se que é andrógino, casado com 11 olosas e olonas (espíritos femininos do mar), pai e mãe de Iemanjá e senhor das profundezas do mar. Suas cores são azul-marinho, negro e branco.

Olokun desempenhava um papel importante na religião iorubá: vinha logo depois de Orixála, o deus criador em pessoa, relação semelhante a Zeus e Poseidon na mitologia grega. Também tinha relação com Oiá (divindade da mudança repentina). Era padroeiro dos descendentes de africanos levados para as Américas. Oferecem-lhe milho cozido com alho, cebola e manteiga, feijões, doce de coco, melado, inhame cozido, carne de porco, bananas verdes fritas e outras iguarias envolvidas em pano azul e levadas ao mar dentro de uma cesta. Recebe sacrifícios de galo branco, frangos, pombas, ganso, pato e da tartaruga Jicotea.

São inúmeras suas associações:

  • um grande jarro de barro ou cerâmica, de cor preta ou azulada, onde seus atributos são encontrados vivos na água do mar
  • representações náuticas, como barcos, lemes, âncoras, correntes etc.
  • uma sereia com uma cobra em uma mão e uma máscara na outra
  • conchas, cavalos marinhos e estrelas do mar
  • tudo sobre o oceano feito de chumbo e prata

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O mito de Perseu

Estátua em mármore de Perseu segurando a cabeça de Medusa.
Antonio Canova, 1800 (Museu do Vaticano)

O Rei Acrísio de Argos era pai da linda Danae, mas estava desapontado por não ter um herdeiro homem. Foi consultar, então, o Oráculo de Delfos e soube jamais teria um filho homem e que seu neto o mataria. Por isso, trancou Danae numa torre de bronze (ou masmorra), onde ninguém poderia encontrá-la. Mas Zeus - já apaixonado pela princesa - foi até ela em forma de chuva de ouro. Desse encontro, Perseu nasceu escondido pela ama de Danae. Ao saber do ocorrido pelo choro do recém-nascido, Acrísio matou a serviçal, enfiou Danae e seu neto numa urna e jogou-os ao mar. Protegida por Zeus, a urna foi levada à ilha de Serifo e encontrada pelo pescador Dictis, irmão do Rei Polidectes, que os acolheu como familiares. Perseu teria estudado com os sábios centauros e se tornado um forte e belo rapaz que protegia sua mãe de forma ciumenta.

O Rei Polidectes enlouqueceu de paixão por Danae em visita a seu irmão Dictis. Temendo o filho semideus, Polidectes enviou Perseu secretamente para Líbia (África) com intuito de matar a górgona Medusa como presente a ele, na esperança de que ele perecesse na expedição, uma vez que a górgona podia transformar uma pessoa em pedra com um olhar. Algumas histórias contam que, na verdade, Perseu teria oferecido trazer a cabeça da Medusa como presente a ele e Polidectes teria aproveitado a oportunidade para tentar se livrar do jovem.

Perseu pediu ajuda aos deuses: Hermes deu-lhe sandálias aladas e sua espada feita por Hefestos, Hades emprestou-lhe o capacete da invisibilidade e Atena entregou-lhe seu escudo polido. O jovem guerreiro voou até a caverna da górgona com as sandálias aladas e, com auxílio do capacete, enganou as Gréias que guardavam a entrada. Ainda com o capacete, Perseu se aproximou de Medusa sem que ela percebesse, usando o escudo de Atena como um espelho, de modo que não precisou olhar diretamente para Medusa. Do corpo morto, nasceu Pégaso e Crisaor.
Algumas lendas dizem que as armas de Perseu foram dadas por ninfas e não pelos deuses, e seriam uma capa da escuridão, uma bolsa de couro capaz de guardar a cabeça e botas aladas. Hermes teria guiado Perseu em sua jornada e teria emprestado uma foice para decapitar a górgona. Atena - ainda raivosa da górgona (explico melhor depois ) - teria aparecido com um espelho de bronze para ajudá-lo. Nessa lenda, por causa da bolsa, não há respingos de sangue e, portanto, não há serpentes. Pégaso também não é cavalgado, pois as botas aladas são o transporte.
Gravura de Perseu e Andrômeda
com o monstro morto
Perseu, então, cavalgou Pégaso para retornar a Grécia e encontrou o gigante Atlas que não queria permitir sua passagem. Perseu petrificou o gigante e, no embate, algumas gotas do sangue de Medusa caíram no deserto africano e se transformaram em víboras venenosas. Em seguida, o herói passou pelo rochedo onde Andrômeda fora acorrentada nua. Ela era a filha mais velha do Rei Cefeu e da Rainha Cassiopéia da Etiópia que tivera a temeridade de se julgar mais bela que Hera. Sempre vingativa, a deusa pediu que Poseidon liberasse um horrível monstro para devastar o reino de Cefeu. Algumas lendas, dizem que a ofensa de Cassiopéia foi ao próprio Poseidon, dizendo-se mais bela que as ninfas do mar.

Consultado o oráculo de Ammon, Cefeu soube que era preciso sacrificar Andrômeda ao monstro marinho. Persuadido da inocência de Andrômeda, Perseu livra-a dos grilhões e petrifica parte do monstro com a cabeça da Medusa, facilitando o trabalho de sua espada. Querendo desposar Andrômeda, Perseu ainda teve que utilizar da górgona para petrificar o pretendente Fineu e seus seguidores. De volta com Andrômeda em seus braços, Perseu entregou o presente a Polidectes que, incrédulo, abriu a encarou a górgona, tornando-se um rochedo. Em seguida, Perseu consagrou a cabeça da górgona a Atena, que pediu a Hefestos para fixá-la em seu escudo.

O herói levou Andrômeda e Danae para Argos, onde esperavam a reconciliação com Acrísio. Ainda temeroso, o rei fugiu para Tessália sem nem ver seu neto crescido. Participando dos jogos fúnebres do rei da Larissa, Perseu confirmou o Oráculo de Delfos: fazendo um lançamento desastroso, acertou acidentalmente seu avô sem saber que ele estava ali como espectador. Perseu se recusou a governar Argos, deixando-a para seu primo Megapentes, e foi para Tirinto, onde acabou por fundar a cidade de Micenas.

Acredita-se que todo o armamento divino de Perseu seja uma alegoria dos poetas: as asas de Hermes seriam um bom navio; o capacete de Hades seria o segredo dessa expedição mortal; e o escudo seria a grande cautela de Perseu. Modernos escritores dizem que Perseu foi um chefe fenício que teria roubado três cavalos na Líbia que eram chamados de Górgones. Pesquisadores encontram também referência a três navios mercantes que comerciavam na costa africana e teriam sido tomados pelo corsário Perseu. O monstro marinho teria sido um pirata que quis roubar a filha de Cefeu. Perseu venceu o pirata em um combate naval.

E OS FILMES, AFINAL?
  • Vê-se que é fundamental que Danae saia viva da urna, pois ela é o alvo da paixão louca que engatilha a expedição de Perseu. No filme de 81, a expedição é um teste divino, enquanto, no novo filme, é preciso matar o Kraken.
  • Interessante ver que, na mitologia, Perseu PEDE ajuda aos deuses, enquanto, em ambos os filmes, os deuses DÃO ajuda espontaneamente.
  • Pégaso realmente nasceu após a cabeça cortada da górgona. As sandálias aladas de Hermes foram substituídas por Pégaso, que realmente fica bem melhor na telona. Mas porque escorpiões e não as serpentes da mitologia? Afinal, serpentes fazem mais sentido se você pensar na estética da Medusa. É bem verdade que os escorpiões ficaram ótimos na telona também.
  • O capacete da invisibilidade (ou capa da escuridão) é o melhor presente. No filme de 81, ele precisou ser perdido, se não ia ficar fácil matar a Medusa no cinema. No novo filme, nem sinal do capacete, até porque Hades era o grande vilão e ele não iria dar um presentinho desses pra Perseu. Aliás... eu tinha dito que Hades não tinha participação nenhuma no mito de Perseu... me enganei e vou corrigir lá.
  • As gréias que guardavam a entrada do templo de Medusa são as bruxas de um olho só do filme. Eles nunca tiveram poderes precognitivos... falarei delas e de Medusa depois. No filme de 81, quem protege o templo é Dioskilos, um cão de duas cabeças - do qual não tenho referências.
  • Confirmado que o templo de Medusa não tinha relação com o Rio Estige no Mundo Subterrâneo. Mas poderia ser uma metáfora dos filmes a essa expedição mortal secreta. O templo pode ser na Líbia ou em Cabo Verde, ainda estou pesquisando melhor sobre isso e falarei mais quando falar da górgona.
  • Fiquei com a impressão de que Perseu cruza sem querer com Andrômeda na mitologia, o que difere totalmente dos filmes, quando ela chega a ser protagonista. O problema é que Líbia, Etiópia e Cabo Verde são distantes no mapa e ficaria difícil de entender esse percurso. Pelo menos, no filme de 81, eles falam que a ação ocorre em Jopa, na Fenícia, civilização que pode ter relações com a Líbia ou com os escritos modernos desse mito.
  • É possível que o enorme monstro seja uma baleia responsável por ondas gigantes, e não o Kraken, uma vez que o monstro é teria sido transformado na constelação de Baleia após sua petrificação.
  • Acrísio realmente morre pelas mãos de seu NETO Perseu, mas não como Calibos do novo filme.
  • Alguns historiadores dizem que a palavra "herói" deriva de um filho da deusa Hera. Herói teria sido um guerreiro de inúmeros feitos ilustres que ganhou um culto distinto dos deuses. Não consistia em sacrifícios e libações, mas numa espécie de pompa fúnebre onde se celebravam seus grandes feitos. É bem possível que isso tenha sido o mote para o roteiro de guerra entre deuses e homens do novo filme.
  • Viram que não existe Draco, Ixas, Eusébio, Io, Calibos, Talos, Bubo...?
  • No filme de 81, Ammon é guia de Perseu. No novo filme só vi esse nome nos créditos, mas nem vi. Agora a gente sabe que Ammon era um oráculo.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Fúria dos homens!


Assisti o filme Fúria de Titãs (Clash of the Titans, 2010). Mas antes assisti o filme de 1981 para ter uma noção melhor do mito e das diferenças. E são muitas! Quando falei sobre eles, eu ainda não tinha idéia do que vinha por aí.

Pra início de conversa, seria legal fazer uma reverência a Ray Harryhausen, responsável pelos efeitos especiais a base de stop motion e bonequinhos de massa, que criaram um novo universo de fantasia em uma época que George Lucas já tinha apresentado Star Wars. A entrevista que o diretor do novo filme - o francês Louis Leterrier - deu para o Omelete prova isso. Mas dessa vez ele ficou definitivamente no passado... a tecnologia e a maquiagem de hoje dão uma veracidade às criaturas mitológicas que chegam à credibilidade. E nada de 3D! Pra quê 3D??? Esqueçam o 3D!!! Mesmo que o filme peque em roteiro, não precisamos de mais uma coisa atrapalhando nosso filme.

O filme parece ter sido feito com uma cabeça iluminista, quando os homens estavam questionando as teorias teocêntricas e acreditando nas capacidades do próprio homem. São os homens sendo capazes de derrotar os deuses, pois - afinal - somos nós que damos imortalidade a eles com nossas preces, com nosso credo. Só que esqueceram que esses mitos foram criados exatamente com o fim de endeusar ainda mais tais indivíduos. Acaba ficando estranho. O filme de 1981 parece tentar manter essa aura. O novo não. E isso foi defendido por Sam Worthington (Perseu) em uma entrevista ao Omelete. Alexa Davalos (Andrômeda) também foi por aí.

Bom... vamos lá, vamos falar de ambos... mas vai ter spoilers:
  • Quem disse que Zeus enganou seu irmão Hades? E quem disse que Hades era monstruoso? Hades ganhou o Submundo por ser o caçula na partilha com Zeus e Poseidon e, mesmo assim, é lá que estão as maiores riquezas da terra. Sem contar que seu reino dos mortos é o maior de todos!
  • E que história é essa de Hades se transformar em harpias? Harpias são seres únicos e não uma reles mágica.
  • No filme de 1981, os olimpianos parecem ser representados por Zeus, Hera, Atena, Poseidon, Hefestos... e Tétis? Ursula Andress é Afrodite, mas não abre a boca! É um choque, uma vez que foi uma grande Bond girl... no entanto, no novo filme, os olimpianos aparecem... quer dizer... eles estão lá, como pano de fundo. Você só sabe quem está mesmo nos créditos finais: Deméter, Héstia... Apolo, Poseidon, Zeus e Hades são os únicos que falam. Mas Hera e - principalmente - Atena tem participação essencial no mito de Perseu.
  • O Monte Olimpo de 81 é mais belo. É mais tradicional. Achei o novo modernoso demais, meio futurista. Mas a sala dos deuses é bem legal com o mundo abaixo deles.
  • Os bonequinhos de argila de 81 foram mantidos! Eu adorava aquilo e a ideia de que os deuses brincavam de bonecos de argila em um anfiteatro, mas, na verdade, estavam controlando os homens. O novo filme mostra os bonecos somente como uma belíssimo fundo de colecionáveis, que é destruído quando o Kraken é solto.
  • Erros graves no mito de nascimento de Perseu do filme novo. É dito que Zeus teria se transformado no Rei Acrísio e dormido com a rainha Danae. Acrísio não aceita a traição e lança a esposa e o recém-nascido ao mar. Nesse momento, uma raio o atinge e ele fica deformado, transformando-se em Calibos. Perseu é salvo por pescadores, com Danae morta. Tudo errado... Danae é FILHA de Acrísio! O rei descobriu que seu neto iria matá-lo, então resolveu trancá-la longe dos olhos humanos. Zeus, em forma de chuva dourada, encontrou Danae e ambos geraram Perseu. Acrísio descobriu e os lançou ao mar. Danae e Perseu sobreviveram na ilha de Polidectes.
  • Calibos não existe. Em 81, ele é filho de Tétis, amaldiçoado por Zeus por ter matado animais sagrados. Em 2010, ele é o Rei Acrísio também amaldiçoado por Zeus e protegido por Hades. É dito que ele é baseado em uma peça de Shakespeare.
  • Io, uma guerreira? Ela foi uma das ninfas amantes de Zeus! Não tem nada a ver com Perseu! Gemma Arterton - atriz que a interpretou - falou que sua presença era para dar mais força às mulheres no filme, pois anteriormente elas eram "donzelas em perigo". Como assim? E as manipuladoras Hera e Tétis? E Atena? E por que Andrômeda não terminou com Perseu no novo filme? Eu hein...
  • E os novos companheiros de Perseu? Draco, Ixas, Eusébio e Solon são inexistentes. Os dois guerreiros árabes que matam tudo nem nome tem! Aparecem, desaparecem e reaparecem. No filme original, Perseu é acompanhado por guerreiros sem nome e Talos, do qual também não tenho referências. Aliás... os pais do novo Perseu também não existem...
  • Djins? Seres mágicos do deserto que cavalgam escorpiões gigantes? Essa foi de doer... que eu saiba djins são espíritos da mitologia árabe!
  • Bubo, a coruja tecnológica do filme de Harryhausen, não existe. E Ray também não gostava dela. Por isso, a brincadeirinha no novo filme. Mas a coruja é até hoje um símbolo de sabedoria, consagrada a Atena.
  • A lenda de Pégaso é uma grande questão que ainda terei que pesquisar melhor. Que eu saiba, Pégaso nasce da cabeça de Medusa, após ela ser cortada por Perseu. No original, é contado que Calibos matou a manada de cavalos alados de Zeus, sobrevivendo apenas Pégaso. No novo, existem vários cavalos alados, sendo Pégaso o maior deles. Normalmente, Pégaso é branco. No novo filme, é preto. Mas um detalhe: fiquei com uma vontade de cavalgar esse Pégaso novo... sensacional! Só tive essa sensação uma vez: com o dragão Falcon de História sem Fim!
  • Falando em Medusa... podem rir, mas depois de Uma Thurman em Percy Jackson, não consigo pensar em outro rosto pra górgona! Mas ela não pode ser bela como Uma... nem como a nova Medusa. Ela tem que ser horrenda como a Medusa de Harryhausen. As lendas são diferentes: em 81, Afrodite foi a responsável pela transformação, mas, em 2010, o correto vem à tona com o desdém de Atena e o estupro de Poseidon.
  • Outra coisa que não sei se está certo é a localização do templo de Medusa. O rio Estige - usado corretamente nos dois filmes - leva os mortos ao reino de Hades, no Submundo. No entanto, é dito que Medusa fica por lá. Que eu saiba, ela fica próxima aos Jardim das Hespérides, possivelmente em Cabo Verde.
  • Já falei que o Kraken é um monstro da mitologia escandinava... então, como pode nesse novo filme, ele ser um titã? E pior... ter sido criado da carne de Hades! Aliás, em ambos os filmes, Medusa é chamada de titã... ERRADO! Os titãs eram filhos de Gaia, antes dos deuses e dos homens!
  • Argos é destruída no início do filme de 81 pelo Kraken. O resto da história ocorre em Jopa, cidade fenícia. No filme novo, tudo acontece em Argos. Mas o mito se passa na Etiópia!
É isso... são muitas - e ainda tem mais - questões, mas, incongruências a parte, é mitologia no cinema! Esqueçam os personagens perdidos com atuações insossas e curtam todos os efeitos especiais que temos direito! A continuação já está prevista para 2012... hã? Como assim? Sei lá... vai ter bastante roteiro mitológico adaptado.

Eu espero dar conta de todas essas histórias por aqui!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ixchel

Ixchel ou Ix Chel ("A de pele branca" ou, talvez, "Arco-Íris") era a deusa do amor, da gestação, dos trabalhos têxteis e da lua. Possivelmente, a maior deusa na mitologia maia, era também conhecida como Lady Arco-Íris, Mãe-Terra e Caverna da Vida. Muitos crêem que ela era a deusa jaguar da medicina e do parto na antiga cultura maia.

Como deusa da pintura e dos tecidos, Ixchabel Yax, foi casada com o grande Itzamna, com quem teve inúmeros deuses celestes. Mesmo casada, Ixchel é conhecida por seus inúmeros amantes. Quando se enchia dos ciúmes deles, ficava invisível por um bom tempo, apenas ajudando mães e seus recém-nascidos. Nessa forma, era representada por uma jovem e um coelho, símbolo de fertilidade e abundância no mundo inteiro.

Existem registros de inúmeros rituais xamanísticos dedicados à deusa no século XVI. Em sua manifestação agressiva, era a deusa das tempestades, representada por uma velha com uma serpente na cabeçamãos e pés em garras e ossos cruzados nas roupas que esvazia os recipientes de cólera sobre o mundo. Seu poder de trabalhar com a serpente do céu para provocar enchentes era muito temido. As inundações seriam produto de sua raiva pelos humanos e a maior delas pode ter sido o Grande Dilúvio que também aparece na mitologia cristã. Seus sacerdotes tentavam acalmá-la com sacrifícios freqüentes. O jarro esvaziando que aparece em várias de suas representações também pode ser referente ao ciclo lunar, uma vez que remete à lua minguante. E essa simbologia possui ligação direta com as funções maias de uma parteira (o jarro esvaziando seria o nascimento) e com o ciclo menstrual.

Possuía templos nas ilhas mexicanas de Cozumel e Isla Mujeres, onde grandes cerimônias eram realizadas em sua honra no sexto dia de lua. De um porto na península de Quintana Roo, partiam as canoas de peregrinos até os templos para solicitar ao oráculo da deusa (um sacerdote que ficava dentro de uma estátua feminina) um bom parto.

Estátua de Ixchel na ponta sul da Isla Mujeres, onde ainda existem ruínas de seu templo.(Foto: Arquivo pessoal)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Glooskap

De acordo com várias tribos norte-americanas, a mãe-terra teve os gêmeos Glooskap - bom, sábio e criativo - e Malsum - mau, egoísta e destrutivo. Quando sua mãe morreu, Glooskap imediatamente começou a criar plantas, animais e os seres humanos de seu corpo. Em contrapartida, Malsum criou plantas venenosas, répteis e insetos.

Cansado de disputar com seu irmão, Malsum planejou matá-lo. Malsum contou que apenas as raízes de uma samambaia poderiam fazer mal a ele. Sempre verdadeiro e leal, Glooskap revelou que penas de coruja poderiam machucá-lo. Malsum, então, fez um dardo de penas de coruja e matou seu irmão. Mas Glooskap era tão poderoso que ressuscitou planejando vingança, mostrando que o bem pode ser corrompido. Glooskap utilizou raízes de samambaia para prender Malsum que acabou morrendo. No mundo subterrâneo, Malsum vinha atormentar os homens como um lobo espiritual somente à noite.

É também conhecido como Gluskabe, Glooscap, Gluskabi, Kluscap ou Kloskomba. Seu nome pode significar "o homem que veio do nada" ou "o homem criado a partir da palavra". Costuma ser associado à força e à sabedoria dos líderes.

Para os povos Abenaki, Tabaldak foi o criador do mundo. A poeira de suas mãos gerou os irmãos gêmeos Glooscap e Malsumis, o bem e o mal. Glooscap teria feito de tudo para proteger a humanidade, fosse liberando animais para caça, fosse consertando as variações climáticas impostas por um grande pássaro mitológico. Para os Mi'kmaq, Glooskap tinha utilizava seu incrível poder de transformação para impedir as maldades de seu irmão maligno. Os Penobscot admiravam Gluskabe por ter criado os primeiros seres humanos e salvo o mundo de uma rã monstruosa que havia engolida toda a água existente.

É dito que Glooskap é o responsável pelo primeiro trato ambiental que teria feito com que seres humanos e a Natureza vivessem em harmonia. Mas isso perdeu sua validade com a chegada do homem branco, que Glooskap não aceita.

domingo, 9 de maio de 2010

Taranis

Taranis (ou Júpiter) com roda e relâmpago
Taranis (ou Tarann ou Taranuo) era o deus do trovão e mestre do céu da antiga Gália. Cruzava os céus em sua carruagem de prata e o trovão era o ruído que faziam as rodas. Os raios eram produzidos pelas fagulhas que saíam dos cascos dos cavalos. A roda, portanto, foi atribuída a ele.

Os romanos acreditavam que ele recebia sacrifícios humanos de seus adoradores. Deriva o seu nome das palavras taran ou toranos, que significam "relâmpago" ou "trovão", e chegou a ser considerado como o deus do fogo. Por isso, também aparecia, às vezes, como uma deidade relacionada com outros elementos essenciais, sobre os quais incidiria como uma espécie de princípio ativo.

Era adorado em quase todo o mundo celta e, pode ter sido associado ao deus romano Júpiter, ao grego Zeus, ao celta Donar e ao nórdico Thor. Mas também foi associado ao ciclope Brontes que criava relâmpagos para Zeus, na mitologia grega.


Rodinhas de metal utilizadas pelos adoradores de Taranis, chamadas de rouelles.
Milhares dessas foram encontradas na Bélgica galesa.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Mati-Syra-Zemlya

Mati-Syra-Zemlya (úmida mãe terra) era a mais antiga e poderosa deusa eslava pré-cristã. Não possuía representação antropormófica, sendo a própria Terra. Não era um espírito, mas a presença em todas as coisas. Um mito dizia que, na noite do dia 24 de cada mês, ela se tornava uma mulher de pele escura, vestida de fitas coloridas, e ia abençoando casas. Em algumas vezes, aparecia como uma ovelha, seu animal sagrado.

As pessoas adoravam-na cavando um buraco no chão e falando nele. Ouvir os sons vindos do buraco era um forma de saber se a deusa traria boas colheitas. Também deixavam pão e derramavam vinho para a deusa. Arar um sulco ao redor da casa, protegia contra pragas. Antes de viagens, era preciso beijar a terra natal e pedir licença à terra que se vai visitar. Também era convocada em juramentos e casamentos com um pouco de terra na cabeça do envolvidos (podia ser comida).

Posteriormente, foi associada a Mokosh e poderia ser sua personificação. É comparada a Gaia grega, e também era chamada de Matka e Matkusha.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Audumla

Manuscrito do século XVIII
A vaca Audumla foi o segundo ser da criação escandinava. Ela se originou da geada que ocorreu em Ginnungagap (o abismo da criação) a partir do encontro entre Muspelheim (terra do fogo) e Niflheim (terra do gelo), assim como o gigante primevo Ymir. De seu úbere corriam quatro rios de leite que forneciam alimento para o gigante e seu filho de seis cabeças.

Audumla se alimentava do sal congelado nas pedra, que ela lambia avidamente. Certa vez, enquanto lambia, apareceu a cabeça de um homem. Ela continuou a lamber até que, depois de três dias, um homem inteiro foi libertado do gelo: o belo e forte Buri, avô de Odin, Vili e Ve.

É possível que Audumla se assemelhe a deusa egípcia Hathor e com a cabra Amaltéia da mitologia grega.

O mito da criação: Ymir, o primeiro gigante, se alimenta de Audumla, que lambeo gelo de onde sai Buri (de Nicolai Abraham Abildgaard, 1790)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Quarup

Nativos se apresentando para o Quarup. Noel Villas Bôeas, 1998

Vamos conhecer um pouco sobre a cerimônia do Quarup.

Por ocasião da morte de uma figura ilustre na aldeia, seja por sua linhagem ou liderança – normalmente um cacique –, os povos do alto Xingu realizam o Quarup (ou Kuarup), que representa a ressurreição a salvação de sua alma (guarda semelhanças com a Páscoa cristã, não?). É uma grande honraria que coloca o morto no mesmo nível de seus ancestrais e incorpora uma história mítica de Maivotsinim (ou Mawutzinin), o primeiro homem.

O MITO
O mito é contado da seguinte forma: desejando ressuscitar os mortos, Maivotsinim entrou no mato e cortou três troncos de quarup, fincando-os no centro da aldeia. Ali os pintou e adornou com colares e penas. Chamou duas cutias e dois sapos cururus para cantarem com ele. Também distribuiu peixes e beijus para o povo comer. Os maracá-êp (cantadores), sacudindo os chocalhos na mão direita, cantavam sem cessar em frente dos quarup, chamando-os à vida. Mesmo incrédulos, o povo da aldeia começou a se pintar e a gritar. Maivotsinim os impediu de chorarem seus mortos, dizendo que viveriam, e por isso não podiam ser chorados. No dia seguinte, todos queriam ver os quarup, mas Maivotisinim pediu que todos esperassem a transformação por mais um tempo. À noite os troncos começaram a se mexer, como se o vento os balançasse. Os sapos cururu e as cutias, então, cantaram para que, assim que virassem gente, os troncos fossem ao rio se banhar.

Quando o dia clareou, da metade para cima os troncos já tinham forma humana. Os cantos continuaram, e Maivotsinim ordenou que todos na tribo se recolhessem para suas ocas e não saíssem. Ao meio-dia, a transformação já estava quase completa, e o povo pode sair para fazer uma grande festa com gritos de alegria, mas aqueles que tivessem tido relações sexuais durante a noite não tiveram permissão para sair. Um índio foi impedido por isso, mas não aguentou de curiosidade e saiu. O encanto foi quebrado e os quarup voltaram a ser madeira. Zangado, Maivotsinim disse que os mortos não reviveriam mais no Quarup, que seria apenas uma celebração que, no fim, os troncos tinham de ser jogados no rio do jeito que estavam.

O RITUAL
Tronco de Quarup pintado para a celebração (Sandra Zarur)
Os preparativos começam 15 dias antes do evento. São realizadas grandes pescarias, pois o grupo organizador tem que oferecer uma boa alimentação para os grupos convidados. Uma semana antes, são cortados os troncos que representam os mortos. Eles ficam escondidos na mata até a véspera do cerimonial. O ápice do ritual é precedido por uma série de atividades: preparação dos alimentos derivados da mandioca, busca dos troncos e preparo dos ornamentos. Os responsáveis por fazerem o convite da cerimônia são os pariat (mensageiros), que saem convidando as outras aldeias.

E a celebração – tipicamente – se inicia com a chegada de povos de outras aldeias, que ocorre em meio a muitas danças e se acomodam na periferia da aldeia. Depois alguns "índios" vão ao mato e cortam um tronco de quarup, fazem uma cabana de palha em frente à Casa dos Homens, e a frente dela fincam o tronco no chão. O tronco recebe uma decoração, acompanhada de cantoria que elogia quem está sendo homenageado. Arma-se, então, uma fogueira em frente ao tronco, onde sucedem-se danças e cantos para Tupã, organizados pelo pajé. Terminando a evocação, os homens se dispersam pelo terreno em pequenos grupos após recolherem uma chama para acender as fogueiras dos outros grupos. À noite acontece a ressurreição simbólica do homenageado. As carpideiras começam o choro ritual sem que os cantos sejam interrompidos.


Aos primeiros raios do sol do dia seguinte, o choro e o canto cessam, e começa a Dança da Vida, executada pelos atletas das tribos, cada um trazendo uma longa vara verdejante, símbolo dos últimos nascidos na comunidade. Os atletas formam um grande círculo ao redor do quarup para reverenciá-lo. Depois o grande círculo se dispersa, e vários grupos são formados, representando cada um uma tribo. Os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens. Então o chefe da aldeia que sedia o Quarup se ajoelha diante dos chefes de cada tribo visitante e, em sinal de boas vindas, lhes oferece peixe e beiju para distribuírem entre os seus. Terminadas as lutas ocorre um ritual de troca (moitará), onde cada aldeia oferece produtos de sua especialidade. O ritual é encerrado com o tronco sendo lançado às águas.

Luta durante o Quarup. Noel Villas Bôas, 1998

Os mitos da área do rio Xingu foram documentados pelo indigenista Orlando Vilas-Boas (1914-2002), o "cacique branco" do Xingu.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Jano

Busto de Jano no Museu do Vaticano
Com duas cabeças olhando para direções opostas, Jano é o deus romano das entradas, portões e começos. Era o porteiro celestial - toda porta tem dois lados -, representando os términos e começos, passado e futuro.

Era o responsável por abrir os anos (deu seu nome ao mês de Janeiro - januarius) e costumava ser o primeiro deus a ser mencionado nas cerimônias religiosas. Era adorado no início da época de colheita, plantio, casamento, nascimento, e outros tipos de origens, especialmente os começos de acontecimentos importantes na vida de uma pessoa. Também representa a transição entre a vida primitiva e a civilização, entre o campo e a cidade, a paz e a guerra, e o crescimento dos jovens.

Seu santuário mais famoso foi um portal sobre o Fórum Romano, através do qual os legionários romanos entraram em guerra. Em seus templos, as portas principais ficavam abertas em tempos de guerra e eram fechadas em tempos de paz. Tornou-se, então, patrono dos exércitos.

Originalmente, uma face possuía barba e a outra não, e, às vezes, era masculino e feminino - provavelmente um representação do sol e da lua (Janus e Jana). No entanto, é mais fácil encontrar duas faces com barba. Existem, no entanto, em alguns locais, representações suas com quatro faces. Raramente, mostravam seu corpo, mas se fosse feito possuía uma chave na mão direita. A cabeça dupla face aparece em muitas moedas romanas, então, é dito que ele teria inventado o dinheiro.

Uma lenda romana conta que teria chegado a Tessália, onde foi saudado pela princesa Camese do Lácio. Casaram-se, dividiram o reino e tiveram vários filhos, dentre os quais Tiberinus (o deus do rio Tibre). Após a morte de Camese tornou-se o único governante e trouxe as pessoas um tempo de paz e bem-estar, a Idade de Ouro. Ele introduziu o dinheiro, o cultivo dos campos, e as leis. Também teria abrigado Saturno, quando este fugia de Júpiter e, como recompensa, ganhou o poder de enxergar passado e futuro. Após sua morte, foi deificado. Quando Rômulo e seus companheiros raptaram as virgens sabinas, Roma foi atacada. Mas Janus fez um geiser fervente irromper da terra e os agressores fugiram da cidade. Tornou-se então protetor da cidade. Posteriormente, passou a ser símbolo da cidade de Gênova.

Mesmo não tendo representações análogas em outras mitologias, muitas vezes os romanos associavam Janus com a divindade etrusca Ani e com os gregos Zeus e Hermes. É possível, que suas representações o liguem a São Pedro, "porteiro" no Cristianismo, mas seu nome pode ter derivado o nome do profeta bíblico Jonas (Yonah, em hebraico) e ter a origem na mesopotâmica Uanna.