O título do post puxa pela ambiguidade da palavra "sentida". Tanto pode ser o particípio do verbo "sentir", uma vez que eu vi o filme que tem o slogan "Sinta a fúria", como pode ser um adjetivo que significa "sensível", "lamentoso", "melindrado". Essa foi a sensação após ver
Fúria de Titãs 2 (
Wrath of the Titans, 2012). Vamos por partes então... com spoilers a partir daqui:
AO FILME
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Sofrido... |
No primeiro filme,
Perseu (Sam Worthington) é um herói que não sabe que é semideus e, portanto, crê na sua mortalidade. Ele odeia os deuses por terem matado sua família e – com sua rebeldia apresentada em seus cabelos raspados – vai pra cima de qualquer um como se nada mais tivese a perder. Nem mesmo o fato de saber que o grande
Zeus é seu pai, muda seu rumo. Tudo isso muda no novo filme... com as madeixas maiores e uma invulnerabilidade inacreditável, Perseu tem um filho que se torna sua motivação, sua sensibilidade exagerada e é responsável por mudar sua relação com seu pai divino.
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"Filho, tenho orgulho de você"... "Ó papi"... |
Aliás, a relação entre pais, filhos e irmãos é o enredo do filme. Veja o drama:
Cronos, o poderoso titã, pai de Zeus,
Hades e
Poseidon, quer sair de sua prisão no
Tártaro e para isso consegue que um ciumento
Ares, filho de Zeus (e consequentemente meio-irmão de Perseu), se una ao cheio-de-remorsos-Hades para trair Zeus e Poseidon. Ou seja, espere um monte de "você ama mais ele do que eu", "você é meu irmão e eu te perdôo" e por aí vai... e até rola um sonho premonitório que me deixou com a pulga atrás da orelha: estaria eu lendo
Percy Jackson?
Quando saiu o primeiro trailer desse filme, ficamos sabendo que haveria um romance entre Perseu e a Rainha
Andrômeda que foi desprezada na primeira película. Eu fiquei me perguntando onde estava
Io, mas isso é respondido na primeira cena: morta. Aí fiquei me perguntando porque trocaram a atriz que fazia a rainha. Isso eu não sei... mas não funcionaria a anterior assim como essa não funcionou. Explico: neste filme Andrômeda é uma rainha guerreira, que controla um exército contra monstros do inferno! Alexa Davalos (a primeira rainha) era de uma beleza ímpar, mas "modelo" demais. Rosamund Pike não é tão bonita e convence ainda menos. Em uma cena de comemoração pela vitória, ela dá um grito masculinizado que chega a ser vergonhoso.
As criaturas do filme são bem interessantes. O
Pégaso continua lindo, dando vontade de voar nele. A representação do
Minotauro como um híbrido entre um homem e um touro (ao invés de um homem com cabeça de touro) ficou bem interessante. Não conhecia os
Makhai, mas me fez ficar intrigado sobre esses guerreiros demoníacos. A
quimera fez juz ao monstro. Já os
ciclopes pareciam ter saído de
Harry Potter... Mas sabe qual foi o real problema de todos? A direção do filme! Esses monstros são tão velozes no filme que é quase impossível de entendê-los! Não sei se isso foi para esconder "defeitos especiais" ou para aumentar a tensão de enfrentar essas criaturas mitológicas. Mas ficou ruim! O Minotauro só tem um close... quando morre! Nem aparece o corpo do bicho! Os Makhai giram tanto que só depois de algum tempo você consegue ver que são dois em um só corpo! A quimera talvez tenha sido a mais explorada, no entanto, também ficou para os seus últimos momentos.
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Pégaso encarando Cronos |
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Makhai |
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Minotauro |
Apesar disso tudo, Liam Neeson faz a gente torcer pelos deuses: ele fez de Zeus um protagonista e não somente um coadjuvante de luxo (como o Poseidon de Danny Huston). Junto ao Hades de Ralph Finnes, ganhamos ótimas cenas de drama (ambos discutindo a relação fraterna) e ação (ver Zeus e Hades juntando forças contra Cronos valeu meu ingresso!).
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Cena para os fãs de mitologia: Zeus e Hades indo encarar seu pai Cronos |
Apesar de não ser fã de filmes 3D, esse talvez tenha sido o primeiro filme que me fez desviar de algo que estava vindo na minha direção. O primeiro filme tinha sido convertido para 3D e ficou péssimo, mas esse foi pensado a partir dessa tecnologia e teve excelentes resultados. As cenas do Tártaro, do labirinto e de Cronos são a prova disso. Mesmo preferindo filmes 2D, acho que esse valeu a pena ter sido visto com os malditos óculos.
À MITOLOGIA
Vou colocar aqui em itens:
- Esse filme usa a Titanomaquia como norte. Cronos que se libertar do Tártaro, prisão imposta por seus filhos Zeus, Hades e Poseidon após a batalha com os Titãs. No filme, eles usam a Lança Trium, que seria a junção das poderosas armas divinas: o Raio de Zeus, o Tridente de Poseidon e o Garfo de Hades. Na mitologia não existe essa arma.
- Tártaro não é exatamente uma prisão... mas é o lugar mais profundo do reino de Hades. Portanto, não teria como Hefesto ter construído o lugar. Falando em Hefesto... coitado do deus... ele já é coxo e "corno" na mitologia. No filme, virou um louco que nem todo mundo conhece. Podiam ter aproveitado mais uma briga entre ele e Ares, já que foi o deus da guerra que o traiu com sua esposa Afrodite.
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Pobre Hefesto... |
- E Hefesto não era arquiteto era ferreiro! Então, nada de ter construído o labirinto também! O lugar foi construído por Dédalo para o Rei Minos em Creta. Não tem nenhuma ligação entre Tártaro e labirinto (mas ficou legal no filme).
- Falando em labirinto, claro que teria um Minotauro. Como disse acima, uma das representação mais interessantes que já vi. Mas... que história é essa de imitar vozes e mudar de forma? Aliás, quem confrontou e matou o monstro foi Teseu e não Perseu.
- Quando Hefesto é jogado ainda bebê do Olimpo por sua mãe Hera, ninfas o salvam e ele passa a morar numa ilha vulcânica (ou sob o Monte Etna) onde constrói sua forja e se torna o deus do fogo e do ferro. No filme, essa ilha se chama Kail, que fica no Havaí, ou seja, impossível não?
- Antes de conhecer Hefesto, os heróis enfrentam ciclopes. Os gigantes cessam o ataque ao ver o tridente de Poseidon. Gostei disso porque os ciclopes realmente tinham ligações com os dois deuses: Poseidon é pai de alguns ciclopes e Hefesto utilizava a mão-de-obra deles em suas forjas.
- E somos apresentados a um novo semideus, Agenor, filho de Poseidon. Tipo... quem? Ladrão e alívio cômico do filme, esse personagem não possui referências divinas na mitologia grega. Aparece apenas como um rei, pai de Europa.
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Agenor quem? |
CONCLUSÃO
Peguei pesado nas críticas. Talvez pela óbvia expectativa que eu tinha.
Fico com os mesmos questionamentos que tive ao ver Imortais (Immortals, 2011): pra quê inventar tanto com a mitologia se ela por si só já é tão maravilhosa? Mas ainda acho válida a tentativa... por exemplo, alguns rapazes conversavam na saída do filme que gostaram mais do
Imortais. Mesmo tendo achado-o confuso, fiquei pensando que pelo menos a mitologia estava virando assunto de interesse de uma nova geração.
Portanto, peguem suas pipocas e seus óculos 3D e mergulhem num mundo de fantasia-quase-mitológica sem esperar muito. Desviem das pedras, da lava e do chororô de Perseu.